Tecendo Diálogos
  • Home
    • Quem Somos
  • Cursos e Oficinas
  • Serviços
  • Grupos
  • Blog
  • Contato

Feed RSS

Duas consciências: a do chacal e a da girafa

24/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Na abordagem criada pelo psicólogo americano Marshall Rosemberg, a Comunicação Não-Violenta, a girafa e o chacal são animais que representam nossa maneira de estarmos nas relações, tanto no intrapessoal como no interpessoal e no sistêmico.

Ao expormos esse tema, vale lembrar que trazemos diferenciações didáticas. Em nós elas se misturam, são flexíveis e complexas. O objetivo deste texto é o de oferecer elementos para uma possível reflexão e produção de autoconhecimento.

Cada um de nós opera nessas duas consciências, a da girafa, que é generativa, empática e construtiva e do chacal, que é violenta e destrutiva. Podemos trazer uma intenção firme para alimentar a consciência generativa, amorosa e compassiva da girafa e a abordagem prática da Comunicação Não-Violenta nos oferece um potente apoio para o desenvolvimento e o fortalecimento dessa consciência.

Vamos entender melhor as características dessas duas mentes.

O chacal simboliza uma consciência, uma linguagem interna ou externa e um comportamento violento, de ataque ou defesa e, às vezes de fuga, de não responsabilização.

Como atua essa consciência? Muitas vezes rotulando, julgando e condenando, diagnosticando, sem uma investigação aprofundada do que está acontecendo. Por exemplo, se vejo meu colega de trabalho se deitar na rede por 20 minutos diariamente, após o almoço, posso pensar e comentar: – “Meu colega é um folgado!” A questão é que não procurei saber de onde meu colega vem, qual sua cultura, quais são seus hábitos familiares, bem como não busquei entender quais são suas necessidades quando ele deita na rede após o almoço. Apressadamente o rotulo de “folgado” – e faço isso como se fosse um ataque de um chacal. A consciência do chacal acredita do pensamento binário de certo e errado, melhor e pior, está presa, muitas vezes, na dualidade do concordo – discordo.

A girafa, por sua vez, é o animal que tem o coração mais forte dos mamíferos, um coração que representa a disponibilidade afetiva e uma postura para compreender, já que ela é alta o bastante para enxergar o contexto como um todo, o sistema.

No exemplo do meu colega de trabalho, a consciência da girafa talvez fosse aquela que iria investigar os hábitos culturais do colega e buscaria compreender quais as necessidades que ele estaria buscando atender para si, ao se deitar na rede. Será que ele estaria precisando de descanso, pausa, relaxamento, autorregulação, manutenção de sua cultura que lhe dá um senso de pertencimento e conexão com suas raízes?

A consciência da girafa representa, então, nossa disposição e abertura para buscar compreender o que se passa com a experiência subjetiva e objetiva do outro, a partir do universo dele. Ela é altamente empática.

Existem outras tantas diferenciações entre as duas consciências. A do chacal pode nos alienar da vida que pulsa em cada um de nós e também dificultar de produzirmos boas conexões nas nossas relações. A consciência da girafa tende a enriquecer nossa vida, nos mantendo em contato com nossa energia vital, nossas necessidades humanas e universais, além de favorecer a boa qualidade de nossas relações intrapessoais, interpessoais e sistêmicas.

A intenção, quando se trata da consciência da girafa, é de que os benefícios entre as trocas interpessoais sejam mútuos, que os acordos fiquem favorecidos e o modelo relacional é o ganha-ganha. A intenção, na consciência do chacal é que o sujeito atenta suas próprias necessidades, não importando o que acontece com o outro. O modelo relacional é o ganha-perde.

A pessoa que opera dominantemente na consciência do chacal, acredita na punição como estratégia de educação. Na consciência da girafa, mesmo diante de uma ação ou uma fala trágica ou que não é ética, a busca é por pesquisar quais as necessidades o sujeito estava tentando atender com seu comportamento e apoiá-lo no atendimento daquelas necessidades com uma estratégia a favor do bem comum.

Quando a pessoa opera por meio da consciência da girafa ela quer escutar seu interlocutor e ser escutada por ele; na consciência do chacal, a pessoa, muitas vezes, só que falar.

Se a consciência da girafa está desperta em mim, aquilo que sinto, os meus sentimentos, são minha responsabilidade, pois entendo que eles são, quase sempre, derivados de minha interpretação e de minhas expectativas em relação ao que me acontece ou, simplesmente, brotam de meu mundo afetivo. Se a consciência do chacal está desperta em mim, a responsabilidade e a culpa pelo que sinto é do outro ou do ambiente externo. Não há auto implicação com o meu jeito de receber os eventos que vivencio.

Na consciência do chacal é comum que eu cobre e acuse o outro pelo atendimento de minhas necessidades, enquanto que operando com a consciência da girafa eu me responsabilizo e me empodero  atender minhas necessidades com criatividade e assertividade, algumas vezes usando minha rede de apoio.

Com a mente de girafa, eu sei fazer pedidos que incluem o outro para construir acordos, na mente do chacal eu faço exigências e não aceito o “não” como resposta.

O uso do poder também é diferente nas duas consciências: na da girafa, eu compartilho o poder com os outros; no chacal, eu uso o poder para dominar e ou submeter os outros.

Se não cairmos na armadilha de tomarmos o chacal como mau e a girafa como boa, pois essa seria uma classificação reducionista, quando atuarmos com a consciência do chacal, podemos procurar integrar nossa consciência de girafa para nos apoiar a traduzir a linguagem destrutiva e violenta para conhecermos nossas necessidades humanas e universais escondidas e nos reconectarmos com nossa energia vital. Assim, aprendemos a ouvir nossas mensagens internas mesmo se elas vierem como uivos do nosso chacal.

Sabe como podemos produzir essa nova consciência: amorosa, respeitosa e a favor da vida? Com muita prática e com uma rede de apoio que compartilhe dessa mesma intenção.

Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comentários

Conflito de gerações?

24/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Atualmente o ambiente de trabalho vem sendo ocupado simultaneamente por diversas gerações formadas por indivíduos de diferentes faixas etárias, modos de pensar, de ser e de estar no mundo. Se, por um lado, essa diversidade se traduz em desenvolvimento da criatividade e estímulo à inovação, por outro, ela também pode ser motivo de conflitos. Esses ocorrem pela divergência de opiniões, ideias e pontos de vista, agravados pelo fato de que cada uma delas desconhece as características das demais e o contexto de onde se originaram.

Essa constatação inspira a necessidade de conhecer e compreender uma das gerações mais instigantes nesse momento, dadas as suas diferenças em relação às demais. Trata-se da geração dos Millennials. Conhecer suas características e necessidades pode nos ajudar a lidar com os possíveis conflitos na convivência com ela.

Quem são os Millennials?Para descrever os Millennials, escolhemos o critério de classificação etária adotado por Don Tapscott que diz que eles são o conjunto de indivíduos nascidos entre 1977 e 1997, portanto com idade inferior a 24 anos em 2001.  É a primeira geração a crescer cercada e impregnada pela mídia digital, tecnologia que permitiu a estruturação de redes interligadas, que privilegiam as parcerias e a formação de uma cultura interativa não hierárquica.

Antes de apresentarmos a seguir alguns dos principais aspectos dessa geração, chamamos a atenção para o fato de que, para efeito da descrição desses aspectos, recorre-se à generalização, o que pode ser interpretado como rótulo, enquadrando de forma rígida e inequívoca todos os indivíduos dentro dos padrões descritos. Entretanto, eles não devem ser assim considerados, uma vez que isso poderia dar origem a preconceitos e impedir a visão mais rica e aprofundada de cada indivíduo com suas características exclusivas. Assim, propomos que esses aspectos sejam considerados como fotos sobrepostas de inúmeros indivíduos, em que cada um carrega suas peculiaridades podendo estar mais evidentes em uns do que em outros, sendo que o conjunto é a somatória de todas as partes.

Principais aspectos dos Millennials
  • Dentre as características dessa geração destacamos sua curiosidade e sua forma intuitiva na compreensão da tecnologia atual, assim como sua conexão global por meio dela.
  • Diferentemente das gerações anteriores, eles não têm medo da nova tecnologia e tratam os computadores como qualquer outro utilitário doméstico.
  • Preocupados com questões sociais e ambientais, acreditam nos direitos individuais tais como a privacidade e o direito à informação. Tais preocupações e crenças remetem à necessidade de uma vida com propósito, em fazer um mundo melhor. Para muitos deles, trabalhar em algo que atenda a esse objetivo vale mais do que um bom salário.
  • No ambiente de trabalho, eles desafiam as práticas correntes nas organizações tradicionais e influenciam a forma como o trabalho é realizado. Na medida em que estão ajudando a redefinir e reestruturar a forma de trabalhar, eles estão buscando utilizar seus talentos em companhias que não coloquem barreiras à sua liberdade.
  • Consideram mudanças constantes e turbulentas como normais. São, de um modo geral, mais radicais que as outras gerações, têm bem definidos seus objetivos e não se submetem a condições que não privilegiem isso. Como conseqüência, eles estão mais ligados às necessidades de fazer ajustes intermediários e têm planos de contingência.
  • Nas questões relativas à aprendizagem eles estão provocando uma revisão na natureza da educação influenciando mudanças na forma e no conteúdo do ensino. Ao ingressarem para a força de trabalho, têm exigido de seus empregadores a criação de novos ambientes de aprendizado permanente, com novas ferramentas digitais.
  • Como consumidores, um aspecto a destacar é que eles experimentam antes de comprar, não apenas olham, escutam ou lêem, eles querem usar.
  • Diferentemente das gerações anteriores, eles não têm medo da nova tecnologia e tratam os computadores como qualquer outro utilitário doméstico.

Para ajudar no entendimento de seu perfil, apresentamos alguns itens relevantes dos resultados da pesquisa de campo realizada por Credico e Schikmann em Março/Abril de 2001 com 202 jovens estudantes de nível universitário, faixa etária de 20 a 24 anos que trabalham.

São eles:
Os Millennials e a convivência com as gerações predecessorasNos anos 60 as grandes diferenças entre pais e filhos eram os valores e a ideologia. Hoje o abismo entre pais e filhos não é ideológico, mas tecnológico. Os jovens agora sabem mais sobre tecnologia da informação do que qualquer outra geração anterior.

Os jovens da geração dos Millennials que estão recém entrando para a força de trabalho, estão transformando a natureza do trabalho da mesma forma que seus pais, inventaram um mundo diferente. É a geração que está ensinando as predecessoras a usar os recursos tecnológicos.
A imagem de impacientes, egocêntricos e arrogantes, decorre da forma como preservam sua liberdade, lutam por aquilo em que acreditam, defendem a consecução de seus objetivos e valorizam suas habilidades e conhecimentos em detrimentos de vínculos duradouros.

Entretanto, podemos compreender melhor seu jeito de ser se olharmos para o contexto em que eles foram criados. Numa realidade em que a tecnologia possibilita uma instantaneidade, que funciona em rede e opera em um ambiente em constante mudança em que o apertar de um botão pode finalizar algo que não está agradando e começar novamente de outra forma. Isso posto, poderemos valorizar sua ousadia, flexibilidade, adaptabilidade e acolhimento à diversidade.

Reconhecemos que, para as gerações predecessoras, conviver com os Millennials é um enorme desafio, pois eles questionam tudo e nos obrigam a sair da zona de conforto. Entretanto, em que pese a grande oportunidade de inovação e mudança que os Millennials trazem, ressaltamos que eles não podem desconsiderar a experiência e o conhecimento das outras gerações.

Seja no ambiente de trabalho, no ambiente social ou no familiar, todos terão muito a ganhar se conseguirem associar a ousadia e a habilidade tecnológica dos Millennials ao conhecimento e experiência das gerações que a precederam, num compartilhamento mútuo de aprendizados, construindo com isso um novo jeito de estar no mundo.

​Por Rosane Schikmann – Coach e Mediadora de Conflitos
0 Comentários

Como a Comunicação Não-Violenta pode apoiar as mudanças sociais

24/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Para que as mudanças sociais aconteçam, é útil que trabalhemos com e expressão da não-violência interna e individualmente e, ao mesmo tempo, saibamos identificar as transformações que desejamos realizar no mundo, como nos sistemas de injustiça social e de privilégios pela minoria.

Para uma mudança interna, a demanda é de uma intenção viva e permanente, bem como de uma autoconsciência de nossa violência intrínseca, que precisa ser integrada para ser transcendida. A conexão viva com que estamos sentindo e necessitando pode nos apoiar a encontrar um caminho não-violento e, com benefícios para todos os envolvidos, para o atendimento cuidadoso da vida que pulsa em nós.

Esse é um trajeto de grandes desafios, uma prática diária, que provavelmente, vai permear toda nossa existência. Com essa prática fundamentando nossas vidas, nosso poder pessoal fica fortalecido e ganhamos a chance de espalhar as sementes da não-violência pelo mundo. Talvez, esta prática tenha sido o propósito de vida de grandes e potentes pacifistas da humanidade, tais como Gandhi e Martin Luther King, Jr.

Para promover a mudança no outro, nos grupos, no social e sistêmico, é útil que nossa habilidade empática, de compreender nossos interlocutores esteja amplificada e seja genuína. Muitas das vezes, o exercício é colocarmos de lado por um tempo nosso ponto de vista e postura ética, para podermos ouvir o outro profundamente, ouvir com a intenção de compreender o lugar de fala dele(s).

Quando as pessoas percebem que queremos de qualquer forma muda-las, sem antes ouvi-las e compreende-las, uma resistência à transformação é produzida.

Se estamos lutando por mudanças sociais a favor da inclusão social e da dignidade humana, talvez o que nos apoie é investigar quais as necessidades aquele grupo está buscando atender com suas estratégias “tortas e injustas” e ajudar esse grupo a encontrar outras estratégias mais inclusivas e respeitosas para todos, que atendam suas necessidades.

Socialmente, vivemos estruturas violentas, como o machismo e o patriarcado, sistemas de dominação-submissão impostos pela cultura autocrática. É importante entendermos isso não sob a ótica individual, mas sim estrutural. Compreendendo isso, podemos viabilizar as transformações sociais a partir de uma educação e formação de seres humanos mais empáticos, que valorizem o modelo relacional em que todos ganham e o compartilhamento do poder. Estamos falando do cultivo de novos valores humanos, novas estruturas sociais.

Esse entendimento também pode modificar a produção da “imagem do inimigo”, quando nos vemos diante de pessoas com as quais não concordamos com suas expressões ofensivas. Essa imagem alimenta os sistemas de violência.

Se estamos diante de um homem que agride fisicamente sua filha e sua esposa, nosso desafio seria ir além dos nossos julgamentos condenatórios, acolher e validar nossos sentimentos e necessidades não atendidas com o fato e, buscar um caminho de conexão pela identificação das necessidades que ele estaria tentando atender com essa expressão violenta. Talvez ele esteja em busca de alívio pela pressão social de ser o provedor da família; talvez seja uma tentativa de normalizar um comportamento que esteve presente em sua família de origem; talvez ele busque, de forma trágica, ser reconhecido e considerado como autoridade; ou ainda ele pode estar procurando por ordem e respeito.

No campo da Comunicação Não-Violenta, bem como da Justiça Restaurativa, a ideia de punição como estratégia de formação de caráter ou de educação está ultrapassada. O que se pretende é humanizar as relações, para, por meio de boas conexões ajudar os ofensores a encontrarem estratégias mais respeitosas para com o outro, para atenderem suas necessidades e produzir o bem comum. Esse é um processo de responsabilização sem culpabilização, que investe na produção da cooperação entre seres humanos.

As transformações sociais importantes precisam ser feitas por grupos grandes de pessoas alinhadas com os princípios da autorresponsabilização e da não-violência e, internamente trabalhadas para produzirem com as armas da empatia, conexão e humanização profunda a luta pela dignidade humana.

​Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comentários

“Como trabalhar com quem pensa diferente de nós?”

16/4/2019

0 Comentários

 
0 Comentários

Culpa e Vergonha sob a ótica da CNV

16/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Vários estudiosos da psicologia, referem-se à culpa como um sentimento que fica vivo quando nos julgamos negativamente ao acreditarmos que não conseguimos viver de acordo com os nossos próprios padrões ou padrões impostos pela sociedade.

Na teoria de Freud, a psicanálise, a culpa é consciente e inconsciente, individual e universal, está relacionada às mensagens do Superego para o Ego. Está ligada aos conceitos religiosos de pecado e às proibições relacionadas ao prazer, a um tipo de obsessão por um eu ideal e com aspectos narcisistas de ideal de eu.

Para não viver a auto decepção de nossa natureza imperfeita, a psique cria mecanismos defensivos ao usar o sentimento de culpa. Talvez ela esteja tentando nos defender de perceber nossa vulnerabilidade humana

A vergonha indica que temos introjetado em nossas mentes os moldes, as formas, os modelos do que deveríamos ser e que deveríamos nos encaixar, nos espremer neles. Se não cabemos nesses moldes, tem algo errado conosco.

Fala também de um senso de comparação. Quando nos sentimos muito melhores do que a média, fazemos muito sucesso, somos eficientes, brilhamos demais, ou, quando nos sentimos excessivamente incapazes, incompetentes, pouco inteligentes e menos que perfeitos, sentimos vergonha. A vergonha produz muita alienação de nós mesmos, tendemos a nos esconder para não sermos descobertos e expostos.

A grande questão é que este ciclo de culpa e vergonha nos paralisa, nos desempodera e nos desumaniza. Perdemos nossa espontaneidade, aquela conexão com nosso eu profundo que nos sinaliza acerca de nossos desejos essenciais e nossas necessidades. E assim, deixamos de fazer nossa autorregulação.

A culpa e a vergonha seriam então sentimentos morais. A culpa estaria mais ligada com aquilo que eu espero de mim mesmo, minha auto idealização a nível, principalmente, dos meus comportamentos e a vergonha estaria conectada com meu self, aquilo que sou como essência humana.

Há uma área no nosso cérebro chamada Sistema Límbico que é responsável por todos os nossos julgamentos morais e também pela sensação de culpa e vergonha. É quando vem aquela mistura de preocupação e remorso que faz com que repensemos sobre as nossas atitudes depois que elas foram tomadas.

Como diz Kelly Bryson no livro “Não Seja Bonzinho, Seja Real”:

“Se ouço a culpa, entendo mal sua dor. Se você ouve a culpa, tente ouvir minha dor de novo.”
E ainda:

“…As pessoas nunca ficam bravas ou chateadas conosco, elas estão aflitas com sua carência. Eu posso ser o detonador, mas nunca a dinamite. Posso ser o gatilho de sua dor psicológica, mas nunca a causa. Uma forma de treinar minha consciência a se concentrar nessa verdade é verbalizá-la na mente ou para a(o)  parceira(o).”

A culpa é uma forma de pedir ajuda ou querer receber empatia, que não funciona. Cada vez que eu culpo alguém ou me culpo, eu me torno mais desconectada de mim e do outro. Marshall Rosemberg, uma vez falou que, a culpa seria uma expressão trágica de necessidades não atendidas. O trágico é que, ao usar a culpa, me alieno ainda mais das minhas necessidades ou de compreender empaticamente as necessidades do outro. Por isso fico impotente, inseguro, confuso.

O sentimento comum de culpa nos leva a achar que somos errados, que produzimos um erro e que deveríamos ser perfeitos. Isso não tem relação com sermos humanos. Por isso dizemos que a culpa nos desumaniza. Os seres humanos são vulneráveis, não podem tudo, não são perfeitos, sentem muitos sentimentos e têm muitas necessidades.

A vergonha e a culpa são experiências privadas, vivemos no nosso interior, mas são também públicas, ocorrem geralmente na presença de outras pessoas. O desdobramento dessas experiências, não raro, é a expressão de raiva e da violência, decorrentes da pouca conexão com as verdadeiras necessidades.

Como diz Brené Brown, em A Coragem de Ser Imperfeito:

“É verdade que quando estamos vulneráveis ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos numa câmara de tortura (que chamamos de incerteza) e assumimos um risco emocional enorme. Mas nada disso tem a ver com fraqueza.”

Nos estudos sobre violência e infração, encontramos que o próprio assassino ou o criminoso se sente vítima, às vezes, por não ter tido uma família e outras vezes por se sentir à margem da sociedade. Isso mostra uma relação próxima entre culpa e vitimização. Nessa dinâmica, não há uma responsabilização justa.

Podemos pensar ainda que, quase sempre, se deixamos alguém nos oprimir ou nos ferir, seria útil nos responsabilizarmos por isso. Somos os responsáveis por não estarmos expressando nosso poder de dizer não, de nos afastarmos ou negociarmos com o outro opressor.

A conexão com nosso self, a camada do centro do nosso ser, onde nos conectamos com as necessidades humanas e universais, nos empodera para nos movermos para aquilo que é sadio e protetivo em nossas vidas.

A versão da culpa que é de fato culpa

Agora, imagine que você, propositalmente, faça algo que machuque alguém, imprimindo-lhe sofrimento, humilhação, prejuízo, algo que possa usurpar a dignidade desta pessoa. Se você, diante disso, não se sentir desconfortável e se em algum momento, não fizer uma autorreflexão, e se sentir implicado com o evento, talvez você não esteja vivenciando a sua humanidade.

A culpa é um sentimento construtivo e generativo quando nos ajuda a fazer esta autorreflexão, produz um arrependimento que nos impulsiona para uma reparação.

Por outro lado, a palavra “culpa” que usamos corriqueiramente para nos responsabilizar de forma absoluta ou para colocar essa responsabilidade inteira no outro, pode nos colocar (e colocar o outro) no lugar de reféns e vítimas ou de vilões e algozes. Essa é a culpa degenerativa, destrutiva e paralisadora. É o jogo infantil e cruel do algoz-vítima.

O sentimento de culpa quando é generativo pode estar apontando para as necessidades humanas e universais de equidade, justiça, reparação, empatia, igualdade, reconstrução, conexão e luto, entre outros.

Lembramos que os sentimentos têm função, são os mensageiros de nossas necessidades humanas e universais. Estas dizem respeito à força de vida pulsante em nós.

A linguagem do chacal da culpa. São expressões como:
  • Eu tenho ou não tenho que…
  • Eu deveria ter feito ou não ter feito…
  • Eu deveria ter dito ou não ter dito….
  • Eu sou uma idiota mesmo, nunca aprendo. Ela é uma imbecil, nem se lembrou de me cumprimentar pelo meu aniversário.
  • Me senti abandonada, quando você não me incluiu no jantar do seu trabalho.

Responsabilidade ao invés de culpa ou de vergonha

Uma troca possível, seria ao se perceber chateado consigo mesmo ou com outra pessoa, no lugar de culpar-se ou culpar a pessoa, procurar se conectar com quais as necessidades você ou a pessoa estão buscando atender.

Responsabilidade tem a ver com a escolha consciente e voluntária de como você quer responder a uma situação. É sair do lugar do refém, do jogo de algoz-vítima e se empoderar para escolher como quer viver cada situação em seu mundo interno. É também praticar suas habilidades da linguagem da girafa, da empatia com o outro e da auto empatia.
​
Essas habilidades podem ser aprendidas, treinadas e fortalecidas com a prática.

Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comentários

O que tenho aprendido com a Comunicação Não-Violenta?

16/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Principalmente, tenho ativado meu potencial humano e amoroso e assim reconhecido a humanidade em todos. É encantador perceber que todos nós temos as mesmas necessidades, tais como apoio, reconhecimento, respeito, pertencimento, integridade, inclusão, empatia, amor, segurança, clareza. Essas necessidades são tão legítimas quanto as necessidades de alimento, sono, descanso, lazer ou sexo. Elas estão vivas em mim e em todas as pessoas. Ao me dar conta de que todos nós precisamos das mesmas coisas para estarmos satisfeitos, essa consciência me coloca mais próxima, mais conectada com as pessoas que amo e com todas as pessoas. A qualidade de minhas relações está se transformando, está re-humanizada.

Eu acredito fortemente que tudo que queremos na vida é estarmos em bons relacionamentos, é sentirmos conexão com as pessoas da nossa família, com quem trabalhamos, na nossa comunidade. Isso propicia o bem-estar e um bom tanto do que chamamos de felicidade, pois certamente somos seres sociais, seres das relações, nos compomos com os outros.

O que é a Comunicação Não-Violenta?É um campo vasto de conhecimentos que vamos absorvendo, elaborando e criando contornos, num processo reflexivo e vivencial, que envolve a cognição, o afetivo, o corporal, o intuitivo e o espiritual, e que leva tempo, é processual. É um saber fundamentado num paradigma novo, das práticas colaborativas e da pós-modernidade.

De onde compreendo, a CNV é um acesso prático para a expressão da Não-Violência ou Ahimsa. Esse termo tem origem no hinduísmo, foi popularizado por Mahatma Gandhi que inspirou o idealizador da CNV, Marshall Rosemberg, um psicólogo americano. Diz respeito a uma atitude de clareza em relação aos nossos inerentes aspectos destrutivos e construtivos. A Não-Violência é a escolha ativa e consciente em nos expressarmos a partir do que é construtivo em nós e a percepção de que vivemos sistemicamente, estamos todos interligados compondo o nosso campo de relações humanas. Traz uma intenção para o benefício e o bem-estar comum.

Então a CNV é uma técnica conversacional para estabelecermos boas relações?Embora existam princípios e componentes que compõem a CNV, ela não é uma técnica, é uma prática embasada em uma intenção de estabelecer conexão com as pessoas por meio de uma visão que transcende o olhar para suas ações e falas, e procura aquilo que está por trás de cada comportamento ou expressão. Desta forma, o olhar recai naquilo que somos como humanos, aquilo que nos aproxima e que temos de igual. Eu diria que A CNV está alicerçada num processo de re-humanização profunda e isto é muito maior que uma técnica.

Por exemplo: Quando vemos uma expressão forte de agressão na rua, como um assalto, eu certamente não estou de acordo com a atitude violenta, invasiva e desrespeitosa do assaltante, mas ainda assim eu posso me perguntar quais eram as necessidades nele que não estavam atendidas para que essa expressão acontecesse: o assalto. E provavelmente vou encontrar que ele se sente excluído da sociedade, precisando atender suas necessidades humanas de apoio, amor, segurança, pertencimento, apreciação, interdependência, inclusão, empatia, suporte, igualdade e tantas outras. E quando entendo isso, eu me coloco no sistema, isto é, me corresponsabilizo pela sociedade que estamos fazendo surgir e ainda mais, crio uma conexão de humano para humano com esse ser humano que assaltou. Acredito que essa é a mudança estrutural que estamos precisando fazer em nosso mundo. O ato de criticarmos, reclamarmos e nos indignarmos, por mais legítimo que seja, não está dando conta das transformações que todos queremos que aconteçam, não é? Acredito que mudanças estruturais em nossas consciências e formas de relacionamento com o outro são necessárias. Acredito que o convite seja para sairmos da esfera do individualismo extremo para o coletivo e o sistêmico.

Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comentários

O verbo amaR

3/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
A partir dos ensinamentos de Marshall Rosemberg, o criador da CNV – a Comunicação Não Violenta, que se inspirou em grandes almas, como Gandhi e Paulo Freire, tenho refletido sobre o que é o amor como verbo. Talvez seja o amor no modus operandi do fazer, da ação. Talvez seja atravessar a idealização do amor, quer seja romântico ou humanitário, egoísta e materialista ou socialista – para praticar o amor. Seria algo como sair do mundo fértil das ideias para adentrar o mundo concreto das ações.

Usando a palavra “talvez” como sinônimo de “possibilidade”, o amor como prática, talvez seja oferecer minha presença – a mais genuína que eu conseguir oferecer – para estar com o outro, com os grupos, na dor, no sofrimento, na opressão, na humilhação e buscarmos juntos uma via de transformação autêntica e não violenta para recuperação do estado de dignidade e de reconhecimento de nossa humanidade compartilhada.

Entendo que esse seja o alcance da CNV, que pode ser vista como uma prática espiritual ampla e sistêmica, que compreende que o mundo não será satisfatório e repleto de dignidade enquanto houver uma consciência de privilégios, enquanto alguns de nós precisarmos nos sentirmos, de alguma forma (pelo poder, dinheiro, posses ou força), superior ao outro. Dito de um jeito diferente, acredito que o amor não será um verbo conjugado na nossa linguagem social enquanto eu depender de ter pessoas humilhadas, vivendo sem dignidade, para que eu me sinta especial.

Os grandes humanitários de nossa história, como Gandhi e Martin Luther King, chegaram a um nível de simplicidade e reconhecimento de nossa humanidade em comum, que são inspiradoras para nós, mesmo depois de tantos anos de suas mortes.

Todos nós, seres humanos, acredito, temos necessidade tanto de doar amor, como também de receber. Isso fica bem claro, quando vemos as pessoas solitárias em busca de um animal de estimação para trocar afeto positivo.

No relacionamento de um casal – muito diferente das declarações de amor tão difundidas nas novelas, mas talvez vazias de sentido – o amor como verbo poderia ser: ter uma conversa autêntica e respeitosa que estabelece conexão, fazer um jantar, limpar a varanda do apartamento, fazer uma massagem nas costas e talvez dedicar um tempo para estar com o outro verdadeiramente.

Estou falando de uma ação mostrando minha intenção de apoiar, cooperar, alimentar, contribuir e participar junto com o outro, porque entendo que isso constrói e enriquece a relação. Aqui atuo como sujeito, como protagonista empoderado da relação que quero viver.
E você, quer refletir sobre o que gostaria de doar e o que gostaria de receber para atender sua necessidade de amor? Como faria isso?

Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comentários

Os 3 pilares da Comunicação Não-Violenta

3/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Como sabemos a Comunicação Não-Violenta não é apenas uma metodologia de comunicação para transformar conflitos, ela é uma consciência e uma intenção de uma validação para aquilo que é importante para cada ser humano. Assim, as minhas necessidades de pertencimento, apoio, respeito e sentido são tão importantes como as suas necessidades de espaço, sentido, clareza e segurança. No diálogo empático, honesto e respeitoso, vamos buscar um caminho para que as minhas e as suas necessidades fiquem atendidas. 

Para que esse diálogo aconteça e produza essa conexão é que o embasamos na empatia, auto empatia e autenticidade.

Entendo Empatia por um movimento de olhar para a experiência do outro a partir do universo dele. É oferecer presença na escuta, não para concordar ou discordar, nem para buscar soluções ou aconselhar, mas sim para compreender os sentimentos e necessidades do outro.
É uma habilidade, que pode ser desenvolvida, de compreender o significado da experiência que uma outra pessoa está vivenciando e legitimar essa experiência. Demanda um aquietar de nossas conversas internas, prontas, condicionadas, para abrirmos o espaço curioso e interessado da escuta do outro.

Numa metáfora, é entrar dentro da casa da pessoa que estamos ouvindo, olhar o que ela tem na pendurado na parede, como ela arruma sua sala, o que ela come, qual é sua tradição religiosa, que músicas ela ouve, qual sua cultura familiar, quais são suas experiências, crenças, realidades. E daí, quando conhecemos mais do mundo de dentro dessa pessoa fica mais fácil a compreendermos e validarmos seus sentimentos e necessidades. E também, fica muito provável que a conexão entre as pessoas flua a contento.

Auto empatia ou autocompaixão, de onde vejo, é a capacidade, que também pode ser desenvolvida, de oferecermos apoio e suporte para nós mesmos, antes de qualquer julgamento ou avaliação. É validarmos nossa experiência a nível dos sentimentos que estamos convivendo e das necessidades que eles indicam que estão querendo ser atendidas. É um ato de gentileza e de amizade internos. Faz um contraponto com hábitos de cobrança e exigência ou de ideal de eu – o narcisismo, que nos momentos de dor e fracasso não nos apoiam.

Se a experiência do viver é, muitas vezes, difícil para cada um de nós, fazer nascer esse amigo interno e gentil para nos ajudar, pode cuidar de seguirmos apoiados internamente nos momentos difíceis da vida.

Autenticidade, do meu ponto de vista, é uma expressão daquilo que é verdadeiro e legítimo em nós. Tem a ver com a nossa constituição humana, que podemos acessar e aceitar. Está relacionada com o reconhecimento de que somos ao mesmo tempo construtivos e destrutivos, bons e nem tanto.

A minha honestidade e autenticidade abre espaço para minha singularidade, embora mantendo minha conexão com o humano em todos nós.

Gandhi associou a verdade (Satya) com firmeza (Agraha), pois entendia que a expressão da nossa verdade essencial e clara demanda uma atitude firme e constante e também um trabalho individual de autoconsciência que praticamos por toda a vida. Seu movimento de libertação da Índia do domínio da Inglaterra ficou conhecido como a “Força da Alma”, Satyagraha.

A autenticidade pode ser cuidadosa e respeitosa, é uma força corajosa e não-violenta que trazemos na nossa comunicação, para falar do que sentimos e necessitamos.

Por Lucia Nabão
Psicóloga, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Processos em Comunicação Não-Violenta
0 Comentários
    Imagem

    Categorias

    Todos
    Autenticidade
    Autorresponsabilidade
    CNV
    Diálogo
    Empatia
    Humanidade
    Interconectividade
    Linguagem
    Meritocracia
    Não Violência
    Não-Violência
    Não-Violência
    Necessidades Humanas
    Pode Sobre X Poder Com
    Pontos De Vista
    Resiliência
    Vulnerabilidade
    Webnários

    Arquivos

    Fevereiro 2021
    Maio 2020
    Março 2020
    Janeiro 2020
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Setembro 2019
    Julho 2019
    Junho 2019
    Maio 2019
    Abril 2019
    Março 2019
    Fevereiro 2019
    Janeiro 2019

Imagem
Picture
Picture
Picture
©Tecendo Diálogos 2020
​by iati
  • Home
    • Quem Somos
  • Cursos e Oficinas
  • Serviços
  • Grupos
  • Blog
  • Contato