Com alguns destes termos talvez estejamos falando de valores humanos e entrando no terreno dos pensamentos filosóficos. Estamos conscientes de que isso tem uma amplitude e uma profundidade quase infinita, tanto é que muitos filósofos, como Husserl, Sartre, Nietzsche e outros mais contemporâneos como Foucault, falaram sobre esse tema.
Aqui, nosso interesse é fazer algumas distinções para quando os usamos no contexto da Comunicação Não-Violenta – a CNV, abordagem trazida pelo psicólogo e mediador de conflitos Marshall Rosenberg nos anos de 1960.
A CNV é uma proposta de construção de relacionamentos fundados numa intenção de respeito mútuo, não-violência e que deseja criar conexões mais humanas.
Temos entendido a sinceridade como o ato de falar a verdade, mas isso pode ser diferente de franqueza. A palavra franqueza, deriva de franco (dos franceses), que culturalmente, costumam usar uma comunicação mais direta e frontal, sem rodeios e justificativas.
Outro termo que merece uma reflexão é o que conhecemos como sincericídio, uma palavra usada popularmente que diz respeito ao ato de falar o que vem à mente, sem qualquer filtro, com uma total transparência. Aqui, vamos perceber que esse nível de franqueza ou o sincericídio pode ser violento, pode ferir e não cuidar de quem está ouvindo.
A verdade, se consultarmos a palavra em um dicionário comum, fala da propriedade de estar em conformidade com os fatos ou a realidade.
Mahatma Gandhi, que tanto inspirou Marshall Rosenberg, dizia que praticar a verdade seria conhecer os aspectos intrínsecos da nossa violência. Ele acreditava que a prática de ahimsa, a não-violência, teria como condição inicial esse reconhecimento. A partir disso, poderíamos integrar nossa violência e depois, transcendê-la.
Já a honestidade, na definição da Wikipedia, é uma faceta do caráter moral que conota atributos positivos e virtuosos, como integridade, veracidade, franqueza, incluindo franqueza de conduta, juntamente com a ausência de mentir, trapacear, roubar, etc. A honestidade também envolve ser confiável, leal, justo e sincero.
Hipócrita é uma palavra que tem origem no teatro. Era aquela pessoa que falava embaixo do palco, escondido, soprando o texto para o autor que aparecia para o público. O hipócrita na sociedade fala uma coisa, mas pensa e age diferente, não mostra coerência. Essa palavra pode ser oposta ao conceito de verdade ou de autenticidade.
A autenticidade é uma qualidade de congruência consigo mesmo. Talvez seja próprio da pessoa que fez um processo de autoconhecimento ou se investigou internamente e obteve uma boa conexão consigo mesma. Tem um nível de aceitação e de concordância com aquilo que é, suas dores e suas delícias, e quer expressar-se a partir desta realidade interna.
Pode ser então que, seja útil abrir mão de modelos externos de exigência e perfeccionismo para nos tornarmos uma pessoa autêntica.
Acreditamos que para ser possível um diálogo e que produza boa conexão, tanto no contexto do ‘eu comigo mesmo’, ou com e entre as pessoas, algumas condições são necessárias, como a qualidade de escuta para compreender (mesmo que não concordemos), abertura para o novo, autenticidade, cuidado, disponibilidade, respeito e empatia.
Assim, podemos nos questionar o que queremos produzir em nossas interações, e se a resposta for conexões humanas com respeito e cuidado, nossa expressão autêntica e empática, pode nos apoiar nessa construção.
Por Lucia Maria Nabão
Uma prática da auto observação .